domingo, 15 de novembro de 2009

Tarde demais


Nunca vou me esquecer daquele dia. Meu coração batia mais forte. Podia ouvi-lo claramente. Não conseguia andar, tal era a pressa de encontrar aquele homem. Só podia correr, correr, correr. Os passos ligeiros faziam-me deslizar pelas colinas, sentindo o impulso forte do vento com tal força em minhas costas que parecia que eu ia voar. A ansiedade levava-me a pensar que a estrada não ia mais ter fim. No entanto, caminhei mais alguns metros e lá cheguei. Estava ofegante, nervosa…
De repente, meu coração, que numa desatada correria batia, deu um salto, como se fosse parar. Não era possível o que eu estava vendo, no alto do monte a cruz. E lá estava Jesus. Eu nunca havia visto algo igual. Três cruzes e ele no meio. Uma grande multidão se desfazia, apenas alguns choravam aos pés do meu Mestre.
Estava cansada, confusa. Por isso recostei-me ali mesmo, entre as pedras e fiquei a chorar baixinho. Aquela era a maior impossibilidade já acontecida em toda a minha vida. Um enorme sentimento de perda invadiu-me. Só me restava lamentar. Lamentar a vida, lamentar a morte, lamentar tudo.
O que fazer agora da minha vida? – pensava. Onde depositar minhas tristezas? Como sarar minha dor? Onde buscar soluções, esperanças?… Lembrei-me das crianças desamparadas, dos velhinhos sofridos, dos homens e das mulheres mutilados pelos reveses da vida. Lembrei-me daqueles que ansiavam por uma vida melhor. Conhecia tantos assim. E justo naquela hora em que eu havia decidido levar essas pessoas a Jesus, tudo se acabara. Assim, num enorme e frustrante sentimento de derrota, juntei-me aos que choravam. E, assustada como estava, prostrei-me aos pés da cruz, sentindo o nada que pesava em meu coração. E ali fiquei quieta, por não sei quanto tempo.
Eu havia visto aquele homem de longe. As pessoas diziam-me que ele era o Filho de Deus. Achava isso terrível! Uma blasfêmia mesmo. Um dia, então, resolvi sair para vê-lo de perto. Levantei-me cedinho, vesti-me como se fosse ao poço buscar água, cobri meu rosto com um véu e saí discretamente.
Andei, andei, e quando cheguei à cidade soube que Jesus havia saído em direção ao Mar da Galiléia. Rapidamente, então, dirigi-me para lá.
Daí, a multidão começou a chegar, apertando-me, alvoroçada, e eu comecei a ficar impressionada.
Que homem estranho era aquele que pelas ruas, montes, vales, mares e desertos atraía homens, mulheres, crianças, arrastando-os atrás de si? – ficava a pensar.
Confesso que foi pela curiosidade que comecei a seguir aquele homem. Seguia-o de longe, com medo. Se meus familiares soubessem iriam me chamar de louca, pecadora. O desejo porém de ver aquele homem de perto era maior que tudo. Eu estava muito confusa. Ele dizia ser o Messias, e isso eu não podia aceitar. Isso era pecar contra Deus. Mas eu também não podia negar que as palavras dele queimavam-me por dentro como fogo. Seu olhar era profundo. Parecia que ele via além do externo, criando em mim um sentimento estranho. Eu queria ouvi-lo e vê-lo todo o tempo. A multidão cantava, chorava, implorava cura, perdão… e eu comecei a ficar abalada por ele.
Eu ficava lá, junto ao poço, horas e horas, a ouvir aquele homem. No final, cobria mais ainda o meu rosto com o véu, para não ser reconhecida e, espremendo-me de um lado para outro, escapava da multidão.
Sozinha, então, a caminho de casa, eu ficava a pensar nas coisas que ouvira e não entendia direito, mas uma doce paz invadia meu coração. Ele falava do que estava na Lei, mas falava com tanta singularidade e profunda certeza que parecia algo novo para mim. Creio mesmo que era novo, mas minha mente estava tão impregnada de leis que eu já não conseguia entender mais nada. Mas uma coisa podia perceber claramente: o velho se fazia novo, o esquecido, presente, o decorado, vivo, recente, como se eu estivesse começando tudo naquela hora. Mas logo vinha à minha mente os ensinos de meus pais, praticantes da religião de Israel, lembrava-me dos sábios mestres e acabava achando que os rabinos tinham razão: aquele homem era mesmo um impostor, talvez até um demônio. Agora, porém, ali, aos pés da cruz, eu, arrependida, chorava a morte do homem que veio em resposta a todos os anseios do meu coração. Justo naquela hora em que eu compreendera tudo, em que eu fui pedir-lhe perdão e adorá-lo, ele não estava mais ali. Eu corri, corri tanto, mas foi tudo em vão. Apenas o corpo dele pendia no madeiro. Era tarde demais.
Tarde demais? Não! Nunca! Três dias após a morte, Jesus Cristo ressuscitou. Eu o vi. A voz era a mesma, os gestos, o poder, a mansidão… Tarde demais, sim, para aqueles que desconhecem o final da história de Jesus. Vinte séculos atrás nunca foi tão real como nunca foi tão real a desesperança, a dor, o desapontamento hoje. Ver Jesus Cristo preso à cruz, morto, é a realidade de milhões e milhões de pessoas no Brasil e no mundo. Tarde demais se não nos desprendermos das coisas terrenas. Tarde demais se não aniquilarmos para sempre de nós o espírito do mundo, que retarda a ação e aniquila a fé. Os homens precisam saber que a história de Jesus Cristo não terminou na cruz. Jesus Cristo ressuscitou. A morte foi por ele vencida. Se Jesus Cristo não tivesse ressuscitado eu não estaria aqui falando dele. É ele que me sustenta e me renova a cada manhã. O amor do meu Senhor é que me faz prosseguir mesmo nas adversidades. Não deixe entardecer a vida. Centenas de pessoas ao nosso redor estão caminhando sem alvo, indo em todas as direções, sem, contudo, chegar a lugar algum. Para muitos, entretanto, a noite já chegou. A escuridão das drogas, da bebida, das magias, da idolatria está invadindo a vida de jovens, adultos e crianças nas grandes cidades do Brasil e do mundo. A luz de Jesus Cristo é que trará o sol à vida das pessoas. O sol que aquece e clareia, que faz secar as manchas do pecado, precisa raiar na vida de pais, mães e filhos. Só então será meio-dia no coração dos homens. A mensagem que salva, que redime corpo, alma, mente, espírito precisa ecoar em todos os ouvidos antes que seja tarde demais. Inveja, amargura, solidão, desesperança são sentimentos que precisam ser tirados dos homens. Somente Jesus Cristo, porém, pode operar essa transformação. Foi assim comigo, foi assim com você e será assim para todos aqueles que experimentarem o Cristo ressurreto. Fale! Conte a história de Jesus antes que seja tarde demais.

Nilcilene Figueira A autora é membro da IB da Piam (RJ), redatora da revista A Pátria Para Cristo

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